terça-feira, 27 de outubro de 2020


"Durante anos Ela viveu numa redoma.
Redoma blindada contra ruídos e verdades.
Tudo a sua volta era imaginário e Ela, em sua inocência, sequer enxergava o lado avesso das pessoas - só via aquilo que lhe mostravam e o tempo passou despercebido.
Passou tão despercebido que, na verdade, não passou.
O céu, cansado de ver aquilo, enviou a Ela uma tempestade, que se instalou tão forte e voraz, que seu vento estilhaçou a redoma e demoliu todos os pilares que sustentavam aquele mundo imaginário.
E como num passe de mágica a verdade se fez visível e seu país, que antes era das maravilhas, se tornou negro e sombrio.
Ela conheceu o avesso da pessoa que mais se importava no mundo e tudo desabou.
Uma dor nunca antes sentida impregnou sua alma e tudo aquilo que havia construído e acreditado, escorreu como enxurrada e nada pode fazer, a não ser sentar e assistir.
Sim, tudo de repente, agora se tornara ruína.
Sua vida esvaiu-se e virou pó, e pela primeira vez Ela não sabia o que fazer.
Se revoltou contra o mundo, que agora era real.
Esbravejou, gritou e soluçou. Ajoelhou e pediu por misericórdia que tudo voltasse como era antes.
Em vão. Ninguém que a amava de verdade permitiria que fosse presa novamente e Ela só precisava enxergar.
Foram dias compridos e doloridos. Noites inteiras sem dormir e nada fazia sentido.
Sua cabeça parecia um vulcão na sua mais terrível erupção e tudo borbulhava medo e sentimentos que nunca havia sentido. Tudo era novo.
Ela se via sentada frente aos escombros de sua vida.
Era Ela contra Ela e mais ninguém."

(Ela - Coisas Entre Aspas)

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