sábado, 7 de agosto de 2021


"Ela era boba, sorria sozinha e amava as possibilidades.
Seu sorriso, tão doce, encantava os corações mais amargos.
Falava feito matraca e fazia todos rirem como ninguém. Gostava de brincar, mas também era séria e verdadeira nas horas certas.
Não era todos que tinham a chance de sua companhia e seus sonhos eram tão intensos que não me lembro conhecer alguém igual.
Amava o vento, a chuva e o Pequeno Príncipe.
Era menina, moça, mulher forte e concreta.
Ela era de verdade e não escondia de ninguém seus pensamentos malucos e sua mania de ler a alma de quem encontrasse pelo caminho.
Tinha um coração apaixonante, mas não era aberto. Poucos tiveram a chance de entrar.
Um desses poucos, em especial, o teve por um longo tempo, mas não soube cuidar. Numa de suas travessuras, o quebrou em pedaços tão pequenos, que ela nunca mais conseguiu consertar - Após chorar por dias, sentou-se e cuidadosamente foi recolhendo peça por peça, como um quebra cabeça infinito. Guardou tudo numa caixinha e a escondeu do mundo.
Um belo dia, resolveu abrir a caixinha e montar o coração quebrado.
Arrumou as peças e conseguiu dar forma novamente àquela bagunça, mas havia uma peça que havia sumido - sua identidade.
Ela não perdera sua essência nem tampouco seu sorriso, mas não sabia mais quem era e porque estava ali. Estava confusa, e toda aquela marra e destreza, agora dera lugar ao medo e as incertezas - nunca havia sentido isso antes.
Ela era base pra tudo, fortaleza e sabedoria nata. E de uma hora pra outra se sentiu presa e não sabia como se soltar daquelas amarras e como resolver tudo isso.
Estava sentada, chorando feito criança e pela primeira vez sentiu que estava sozinha, mesmo rodeada de pessoas que a amavam de verdade.
E de repente se deu conta que chorar não era um bom caminho.
No meio do caos, encontrou um velho amigo, e conseguiu finalmente ouvir um de seus conselhos.
Toda vez que queria chorar, se trancava no banheiro - ali dentro se sentia segura e sua fraqueza ficava somente entre ela e o silêncio. Então, levantou-se, olhou-se no espelho e pela primeira vez em semanas riu de si mesma - estava péssima, as lágrimas haviam borrado sua maquiagem e seus cabelos estavam horríveis.
De seu riso nasceu um brilho no olhar que há tempos estava adormecido. Não entendeu, mas continuou a se arrumar, mesmo pensativa.
Ainda não sabia, mas algo estava por vir..."

(Ela - Coisas Entre Aspas)

 

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